15/10/2013

Conto - Como Crianças.


Tudo estava tão bom que mal pude acreditar.

     Apenas meus pensamentos ecoavam naquelas paredes de terra úmida, meu corpo estava completamente imóvel e dolorido, não conseguia sentir minhas pernas, o frio me tomava por completo formigando minha pele e nada podia fazer, já não existia mais forças para lutar contra toda aquela agonia, não era forte o suficiente para lutar mais, apenas pensava nos momentos anteriores, os momentos que me levaram aquele aquele lugar.

     Alguns dias antes estávamos revivendo alguns momentos da infância, brincávamos no parque, era apenas um amigo muito querido com que divida meus momentos, corríamos pelo parque, ficávamos deitados na grama e as vezes íamos tomar sorvete, parecia que nunca ia acabar aquela sensação de alegria, ninguém nos atrapalharia, a menos é claro, nós mesmos. Estava hospedada na casa dele já a três dias, queria fugir da minha antiga vida, literalmente estava começando uma vida nova, então veio de sua boca uma declaração que queria ser muito mais que um amigo, em seguida fui surpreendida com um beijo que tive que recusar, não sabia como me sentir, pensei que tudo aquilo havia sido planejado, sair correndo. Passei pela porta, por algumas casas, fui até ao parque em que brincávamos, chegando lá tudo lembrava ele. Continuei a correr ainda mais e fui me afastando do parque, da cidade, observo que mais a distante existia algo estranho, umas vigas de metal enfiadas na terra e nada mais, cheguei perto para ver o que era aquilo.

     As vigas eram postes da cidade, com a diferença que tinha três ou quatro vezes o tamanho habitual, me perguntei qual seria a necessidade daqueles monumentos naquela região desértica. Naquele momento estava cansada, coloquei as mãos sobre o joelho, tomei fôlego e percebi que corri como uma louca por um bom tempo, sem direção certa, sem trajeto. Ergo meu celular do bolso, era um modelo básico, prateado nas bordas, tinha muitas funções, muitas das quais não conhecia, tento fazer uma ligação para aquele de quem fugia e a chamada não completava, fico atordoada nesse momento e reflito um pocou naquele local pacífico. Penso como o dia começou bem, tranquilo, em paz, me sentia tão confortável naquela casa, nessa cidade, parecia que estava tirando férias da minha vida, com um sorriso confuso olho para o céu claro e azul e percebo que meu desejo realmente era está ali com ele e por isso corri, o medo da segurança me tomou por completo. 

     Respirei fundo imaginando a caminhada de volta, tentando criar coragem para meu retorno, viro em direção a cidade e não percebo que havia um buraco logo a minha frente, provavelmente feito pela remoção de uma das vigas, antes que percebesse já estava no fundo do buraco, muito maior do que podia imaginar, recoberta de lama, tudo doía e a dor não era nada perto da agonia de não poder mover minhas pernas, gritei e gritei por horas sem parar até minha garganta ficar seca, até perceber que ninguém viria.

     Olhando para cima, logo as estrelas aparecem, tomaram todo o pedacinho de céu que restava ver, minhas forças já haviam ido embora, aquele seria meu fim, longe da cidade, longe dele, longe da minha família, ninguém estaria a minha procura, meu coração sabia que era tarde demais e talvez o mundo estaria bem melhor sem minha presença, engraçado é pensar que eu corri em direção a meu ataúde, tudo que me resta agora é fechar os olhos e esperar, esperar meu fim.