28/02/2014

Conto - Fronteiras | Prólogo 1


A concernência imbuída só pode ser toscada por indivíduos que dispõe mente aberta em compreensão analítica do tudo com a personificação do eu.

Muitos dias passaram desde a última vez que a vi sair do calabouço que teima em chamar de casa, lugar sombrio com cheiro forte de produtos químicos, com uma pintura interna escura recuso acreditar que alguém possa realmente morar ali, pelo menos alguém vivo. Interessante dizer que seus hábitos noturnos são contínuos, raramente é vista pela luz do dia, no início acreditei que poderia ser algum tipo de doença e por isso a levei em muitos especialistas para assegurar que tudo estava bem.
Esses hábitos começaram a aparece quando resolveu morar só, depois de vinte e três anos morando comigo Andrea sempre foi uma menina comum, alegre, divertida e com os trejeitos morais e racionais de qualquer indivíduo da atualidade. Vê-la crescer, cuidar dos seus medos e ensinar coisas como virtude e integridade sempre foi meu maior prazer. Sei que o maior orgulho da minha vida está impregnado nessa que chamo de filha.
Todas as preocupações são extremamente recentes, antes de sair de casa vi suas atitudes ficando levemente diferentes. Eu conseguiria perceber até se mudasse o jeito com que segurar a caneca para beber o café. Minha queria esposa, Lívia, faleceu antes de Andrea completar o seu primeiro ano de idade, por isso tive que aprender a ser pai e mãe e como resultado foi desenvolvendo uma ligação nossa muito mais forte de amigos, irmãos e confidentes.
Hoje é uma data muito importante para mim e como é tradição vou a cemitério visitar Lívia para levar esbeltas tulipas amarelas, suas prediletas, mesmo sendo muito difícil de ser cultivada, mantenho em minha estufa um local especial para seu adúbio com o intuito de sempre tê-las para quando for visitar minha esposa.
O tempo não desfez o meu sentimento e sei que por toda a vida que ainda resta para mim, nunca será desfeito, já tentei experimentar outras mulheres, principalmente por causa de Andrea, gostaria de apresentar outra mãe, mas percebi que era incapaz de viver com alguém que não conseguiria gostar, confiar. Depois de Lívia não houve outra companheira que me satisfizesse então dediquei as atenções completamente para o fruto do nosso amor.

Chegando ao sepulcrário caminho com passos curtos, o coração vai ficando mais apertado a cada passo que dou em direção ao túmulo como todas às vezes desde a sua morte. Chegando ao destino coloco delicadamente as tulipas sobre a lápide e junto com as recordações de todos melhores momentos que já vivemos vem uma onda de lágrimas sobre meu rosto, tento aparar, mas é inútil. Ajoelho-me próximo a lápide e em suplica digo.
– Lívia, meu amor, sei que cheguei um pouco tarde hoje, deveria ter vindo mais cedo como de costume, mas – As lágrimas ficam mais intensas, começo a engasgar sobre minhas palavras – Andrea esta passando por uma fase muito difícil, algo que ela não quer me contar e acredito que nossa menina está sofrendo muito, gostaria tanto de ouvir alguma palavra sua para me reconfortar, não sei mais o que fazer minha querida.

Viro-me com uma sensação de conforto, sinto uma completude em meu peito, acredito que onde estiver ela esta comigo, como sempre dizíamos, nosso amor nos manterá unidos mesmo quando a morte vier. Começo a caminhar em direção ao carro quando vejo...