17/09/2013

Conto - Escombros II


     Ela levou muito tempo para olhar para cima, seu subconsciente clamava por uma explicação, nada mais digno do que respostas depois dos acontecimentos daquela tarde, pode-se considerar uma sorte fortuna a que era presenteada naquele momento, restava apenas olhar para cima e descobrir porque ainda conseguia pensar e sentir depois de ver seu mundo desmoronar em segundos.

     Seu corpo estava dormente, como se tivesse sido compressado por várias horas até chegar ao ponto atual, começou a tirar o máximo de poeira que conseguia de sua cabeça para poder enxergar o seu redor, aos poucos suas forças começaram a aparecer e o cheiro forte da realidade começou a impactar em suas percepções. Fora abrindo os olhos devagar e com dificuldade conectando lentamente as imagens que se formavam a sua frente.

     Muito concreto, poeira, vigas de metal, e o mais surpreendente, um homem parecia segurar o concreto acima dela, aparentemente seu salvador. Começara a lembrar então que quando tudo começou a desabar ela sentiu seu corpo sendo puxado com muita força, no momento poderia jurar que mãos a seguravam, mas em meio ao pânico da certeza que iria morrer ignorou todo e qualquer aspecto que fugia ao seu raciocínio imediato. Agora embaixo daquele homem, porém ainda não conseguia ver seu rosto, sentia apenas gotas frias de água pingar sobre sua blusa branca, imaginou nesse momento que alguma encanação deva ter se estourado, imagina então que poderia pelo menos se limpar um pouco, ergue um pouco o corpo, suficiente para olhar onde a águas está batendo.

     O mundo as vezes pode dar voltas, mas dessa vez ele girou muito rápido entorno daquela adolescente que presenciava o que seria a cena mais chocante, surpreendente, fascinante que já vivera, não havendo sequer um momento em que algum fato já tivesse se assemelhado. Quando percebe que a água que estava vazando de um cano próximo era na verdade sangue, escorrendo pelo corpo do seu salvador e gotejando em sua blusa branca a manchando com uma nova certeza de morte, ela grita desesperadamente em agonia e dor, sem esperança, apenas grita para que consiga acordar daquele pesadelo monstruoso, nada poderia ser verdade, nenhuma tragédia deveria acontecer naquele dia perfeito, não em seu aniversário.

Por mais certo que esteja, sempre estará errado.