09/10/2013

O Dom da Visão


     Hoje pela manhã enquanto fazia minha orações matinais e caminhava, costumo praticar o credo em trajetos longos e pacíficos porque além de alimentar minha alma com a palavra também fortifico meu corpo sentindo a natureza da cidade em que moro, nessa viajem espiritual esbarrei-me com um desses pequenos postes construídos como protetores de calçada e casas, com menos de um metro de extensão e feitos a base de concreto com uma viga forte de aço que é posicionada a muitos metros abaixo do chão. Um entrechoque que parecia ter sido planejado, depois do incidente comecei a tomar mais atenção e em resposta procurei um motivo para aquele momento, normalmente procuro motivos para a vida, sei que muito pouco posso compreender ainda, mas me esforço, analisei cada detalhe da rua, as pessoas que passavam e não percebi nenhuma alteração do habitual, continuei meu trajeto em prece percebendo em seguida um homem branco, alto, pele limpa aparentando trinta anos, acima do peso, que me chamou a atenção porque ele locomovia-se com dificuldade usando uma bengala e era portador de deficiência visual.

     Um momento simples do dia, um acontecimento banal, uma casualidade fez com que me sentisse completamente pasmo, nada havia mudado, é claro, além de minha concepção daquele momento marcando completamente o meu dia e minhas história, talvez se não tivesse esbarrado não iria perceber ou se percebesse não iria me importar tanto, houve uma intervenção, eu sentir uma mão a me puxar como se estivesse preparando meu psicológico para ver aquele momento, quando bati no pequeno poste eu sentir muito mais do que um impacto, abrindo meus olhos, fazendo eu para e refletir sobre o mundo e as normalidades a minha volta e assim encontrando a verdade por trás dos acontecimentos. Eu recebi esse toque porque algum motivo e me foi revelado essa essa concepção hoje por um motivo também, algo dentro de mim chamou mais alto e esse texto tenta passar isso também, talvez o motivo pelo qual tenha passado por isso seja o fato de está escrevendo esse texto agora e você lendo, interpretando, analisando e até sentindo em minha palavras o que senti naquele momento.

     Olhando minuciosamente aquele que passava por mim vi que não precisava de ajuda, com uma felicidade invejável de quem acabara de alcançar seus objetivos, não vi sinais de deficiência, depressão, agonias, tristezas, pelo contrário, ele estava só, caminhando pela cidade com sua bengala, sentindo o mundo exatamente como o que fazia. Comecei a pensar em minha vida sem o dom da visão, o que teria que aprender, da quantidade de ajuda que iria necessitar para continuar a fazer parte do que já faço e do que realmente me faria sentir falta, então começou a chover lembranças em minha mente, flash de tudo que perderia, os jogos, os filmes, os cinemas, os seriados, os livros, meus escritos, meus rascunhos, meus projetos, minhas pesquisas, as conversas pelo computador, meu computador, toda a tecnologia visual que tanto admiro, tanto me dedico, meu mundo secreto. Percebi que minha vida hoje gira em torno do que posso ver, minhas ideias e sentidos são voltados completamente para a visão do futuro que projetei e pode ter certeza, a admiração que detive por aquele homem que passou por mim, aumenta a cada segundo e cada lembrança que tenho, somos todos tão egoístas quando não vemos que tudo que já temos é tanto perto de tantas pessoas que estão passando pelos piores momentos da vida e ainda estão rindo, conseguindo e conquistando seus pequenos e enormes objetivos, admiro cada um em cada superação e isso é o mínimo que posso fazer.

A verdade é que nós somos o que pensamos e não o que os outros pensam sobre nós.