A rotina nos leva a caminhar sempre com os
mesmos passos, nos mesmos lugares, nos mesmos horários e muitas vezes nem
percebemos como estamos presos em uma sistema automático de ordem e
funcionalidades questionáveis. Acostumados com o padrão, seguindo a
mesma linha, deixamos o diferente de lado e agarrando apenas ao conhecido, o
confortável, o que acreditamos ser controlável, esquecendo de olhar para os
lados.
Andando na mesma direção todos os dias
encontro pessoas que em seus próprios trajetos interseccionam-se e por complacência não trocamos gracejos, apenas passamos direto, fingindo mal olhar. Mesmo esse momento meramente insignificante tem um efeito considerável ao nosso interior. Não que
o cruzamento fosse essencial, mas sua rotina e continuidade é tamanha que um
dia sem a presença daquele estranho passando no mesmo horário no mesmo lugar
poderia levar a autorreflexões e preocupações sobre seu bem-estar;
Apenas uma mudança simples e tudo parece surreal novamente.
Hoje estava caminhando, normalmente, olhando
para o céu como sempre gostei de fazer, fico vendo os formatos das nuvens; o
céu azul ajuda a me fazer bem, isso é algo que não conto para ninguém, as
pessoas nunca entendem essas coisas e sempre fazem brincadeiras desnecessárias.
Enquanto caminhava vi uma pessoa que não via a muito tempo, não conseguia
lembrar seu nome, estava distante, encostada na parede, com uma expressão muito
triste o que me fez ficar com uma vontade enorme de ir próximo e perguntar se
estava tudo bem. aproximei quase que por obrigação, precisava passar por
ali para continuar meu trajeto, a cada passo que aproximava meu coração
apertava um pouco mais e quando cheguei ao seu lado ele olhou nos meus olhos. Sei
que também me reconheceu, sentir meu peito apertar com sua expressão, meu corpo
parecia mover em sua direção e não conseguia pensar em mais nada.
Passei direto, cada pedaço de mim queria fazer
algo, mas continuei caminhando, nem olhei para trás e mais uma vez sentir como
sou medrosa, como não pude ajudar a ele, mesmo sendo um estranho. Por sua
expressão rígida e sofrida poderia ser que até um bom dia pudesse colocar um
sorriso em seu lábios vermelhos e pequenos e seus olhos castanhos trémulos
pudessem encontrar a paz e talvez até derramar as lágrimas que tanto segurava, estas passariam por seu rosto rosado e o deixaria umedecido, depois por sua barba
feita a três dias atrás e então acertaria o chão. E nesse momento ele poderia
olhar para mim que sou uma estranha e dizer, obrigado. Poderíamos até
começarmos a conversar e nos encontrarmos mais vezes, quem sabe até algo mais.
“ – Olá
- Olá
- Está tudo bem?
- Agora sim, porque você está aqui.
- Bobo. ”