Eu tinha raiva de ser deixado ali, porque provava que não
passava de um excremento que deveria ser descartado e quanto mais rápido eu
desaparecesse, mais felizes todos seriam. Acima de tudo era imposto um código
de ética que deveria obedecer sobre qualquer circunstância a todas as ordens,
por algum motivo aparente não era necessário motivos para fazer o que estavam
fazendo e como um retardado deveria aceitar tudo sem sequer refletir a injustiça
que poderia está sendo praticada.
Por ser imaturo não conseguia compreender que a culpa não
era minha e sim da preguiça e do desprezo dos despachantes, então desde muito
cedo entendi que meu lugar era onde fizesse menos ruídos, porque minha simples
presença já incomodava todos ao meu redor. Na busca pela construção de minha
personalidade comecei uma jornada pela aprendizagem que tinha o fim em conhecer
e ser funcional no máximo de áreas que conseguisse assimilar para ganhar
reconhecimento.
Por muito tempo trabalhei e estudei para ter algum
prestígio, mas quando comecei a receber os elogios não conseguia os compreender,
aceita-los, nunca eram expressivos suficientes, nunca eram duradouros, nunca
parecia ser justo. Em paralelo ao conhecimento tentei satisfazer tanto
emocionalmente quanto intelectualmente aqueles mais próximos, principalmente os
relacionamentos amorosos, mas sempre, em algum momento, falhava.
Se que a busca pela perfeição é algo inalcançável, porém
consigo entender e aceitar erros grandes, decisões erradas ou imperícias, mas
nunca erros pequenos, principalmente aqueles que dependiam apenas de minha compreensão
e paciência. Pequenos erros de personalidade que sempre tentei corrigir, porém,
em algum momento eles explodem. Algum dia, em algum lugar, quando tudo está
dando errado, a paciência começa a ser testada, o que já provei conseguir
concentrar bastante carga negativa, mas chega um ponto que não consigo realizar
o controle e nesse momento cometo os erros que não consigo perdoar.
Queria simplesmente tentar não ser quem sou, ter uma
personalidade fixa e sólida sem os vários tabus e regras que sigo; ser
alguém que não sou. Seria simples, viveria e teria os mesmos pensamentos que a
maioria, verias as coisas boas como elas são e não duvidaria tanto de todos,
talvez até conseguiria abaixar a guardar e falar dos meus sentimentos para semelhantes ou de alguma história que marcou meu passado sem ter medo, vergonha ou receio.
Não precisando ficar sempre no canto escuro da sala e me expondo para o mundo, sem medo, sem correntes, vivo.