30/09/2013

Conto - Escombros III

Quando a esperança se esvai sobra apenas a loucura.

     Não havia um ruido, uma luz de esperança, nada existia a sua frente, a solidão tomava seu coração depois de todo o desespero e tudo agora se torna real, havia sobrevivido apenas para sofrer ainda mais a dor do fim, com a certeza em mente só não queria se entregar, mesmo sem forças seu espírito ainda lutava, mesmo sem corpo. A terra ainda caia em seus olhos, incomodava a suficiente para gerar o gemido de agonia enquanto lentamente retirava, seu corpo estava imóvel, mesmo conseguindo sentir todos os membros.

     E estava lá o seu escudo, lembrara agora de uma trabalho escolar sobre mitologia, sendo que o personagem que mais gostara foi Atlas um titã grego condenado por Zeus a sustentar os céus para sempre, assim estava seu protetor, imóvel em uma pose de sublimação, erguendo o mundo em suas costas, impedindo que os escombros caíssem e a salvando o inevitavelmente de fim, mesmo tendo adiado pouco tempo apenas, lhe sobravam muito agradecimentos.

     Suspiro forte, a terra bate sobre meu corpo, sinto que fui gravemente ferido, sinto as dores, sinto também pontadas fortes em determinadas regiões de meu corpo, me rasgando, estar imóvel é uma condição que não posso abrir mão, tenho que calcular minimamente cada movimento antes do primeiro movimento, sinto minha consciência indo e vindo por vezes, ouço a impaciência tomar meus sentidos, mas permaneço forte em minha crença, se alguém pode fazer algo, esse alguém inevitavelmente sou eu.

     Olho para cima e tento descifrar mais uma vez quem seria meu salvador, tento me posicionar de outra forma, aproveitando um pouco da luminosidade, esta muito escuro, com a fumaça baixa ainda da para enxergar pequenos detalhes, o pior é o medo de me mexer e contra vontade fazer tudo desabar. Agora posicionada um pouco a frente ergo os olhos, enquanto tento reconhecer penso quais teriam sido seus últimos pensamentos ou se de que forma fui importante para ele, pobre coitado esse meu herói.

     Olhos arregalados, o seu coração acelera ainda mais rápido do que quando o prédio começou a desabar, suas mãos começam a ficar úmidas, começa a ponderá agora que talvez já esteja morta e esse seria o inferno tentando fazer ela sofrer ainda mais. Aquela situação poderia ser dificílima e mesmo assim ele seria a ultima pessoa do mundo que imaginaria a salvando dessa tragédia. Seus olhos enchem de lágrimas e mais uma vez ela grita desesperada jogando fora o resto da esperança que pudera ter, começa a então a entrar em choque e tentar mover os escombros a sua frente com movimentos brucos, não sabe se quer sair ou morrer de uma vez. A estrutura frágil do ambiente começa então a ceder e a fumaça toma conta do lugar.

     -Cuidado menina.

     Duas palavras chegam ao seu ouvido, calmas, claras, cansadas, imagina que sua loucura tenha produzido esse som porém fica imóvel esperando que mais alguma palavra seja dita. A poeira atrapalha a respiração e o pouco de visibilidade que ainda tinha, toma fôlego suficiente para mandar um rajada de esperança.

     -Quem está ai?

     -Sou eu Ana, Eduardo.