Não havia um ruido, uma luz de esperança, nada existia a sua frente, a solidão tomava seu coração depois de todo o desespero e tudo agora se torna real, havia sobrevivido apenas para sofrer ainda mais a dor do fim, com a certeza em mente só não queria se entregar, mesmo sem forças seu espírito ainda lutava, mesmo sem corpo. A terra ainda caia em seus olhos, incomodava a suficiente para gerar o gemido de agonia enquanto lentamente retirava, seu corpo estava imóvel, mesmo conseguindo sentir todos os membros.
E estava lá o seu escudo, lembrara agora de uma trabalho escolar sobre mitologia, sendo que o personagem que mais gostara foi Atlas um titã grego condenado por Zeus a sustentar os céus para sempre, assim estava seu protetor, imóvel em uma pose de sublimação, erguendo o mundo em suas costas, impedindo que os escombros caíssem e a salvando o inevitavelmente de fim, mesmo tendo adiado pouco tempo apenas, lhe sobravam muito agradecimentos.
Suspiro forte, a terra bate sobre meu corpo, sinto que fui gravemente ferido, sinto as dores, sinto também pontadas fortes em determinadas regiões de meu corpo, me rasgando, estar imóvel é uma condição que não posso abrir mão, tenho que calcular minimamente cada movimento antes do primeiro movimento, sinto minha consciência indo e vindo por vezes, ouço a impaciência tomar meus sentidos, mas permaneço forte em minha crença, se alguém pode fazer algo, esse alguém inevitavelmente sou eu.
Olho para cima e tento descifrar mais uma vez quem seria meu salvador, tento me posicionar de outra forma, aproveitando um pouco da luminosidade, esta muito escuro, com a fumaça baixa ainda da para enxergar pequenos detalhes, o pior é o medo de me mexer e contra vontade fazer tudo desabar. Agora posicionada um pouco a frente ergo os olhos, enquanto tento reconhecer penso quais teriam sido seus últimos pensamentos ou se de que forma fui importante para ele, pobre coitado esse meu herói.
Olhos arregalados, o seu coração acelera ainda mais rápido do que quando o prédio começou a desabar, suas mãos começam a ficar úmidas, começa a ponderá agora que talvez já esteja morta e esse seria o inferno tentando fazer ela sofrer ainda mais. Aquela situação poderia ser dificílima e mesmo assim ele seria a ultima pessoa do mundo que imaginaria a salvando dessa tragédia. Seus olhos enchem de lágrimas e mais uma vez ela grita desesperada jogando fora o resto da esperança que pudera ter, começa a então a entrar em choque e tentar mover os escombros a sua frente com movimentos brucos, não sabe se quer sair ou morrer de uma vez. A estrutura frágil do ambiente começa então a ceder e a fumaça toma conta do lugar.
Duas palavras chegam ao seu ouvido, calmas, claras, cansadas, imagina que sua loucura tenha produzido esse som porém fica imóvel esperando que mais alguma palavra seja dita. A poeira atrapalha a respiração e o pouco de visibilidade que ainda tinha, toma fôlego suficiente para mandar um rajada de esperança.
-Quem está ai?
-Sou eu Ana, Eduardo.