01/10/2013

Conto - Escombros IV

Aquela voz lhe era muito familiar, mesmo assim não queria acreditar.

     Mas como poderia ser ele se ele estava a tanto tempo imóvel, mesmo quando chamava por ajuda, porque ele não me respondia quando eu o chamava, quando o tocava esperando uma reação. Era apenas uma estrutura firme que segurava toda a estrutura acima, não havia vida, apenas solidez. Sei que falou comigo, ouvir suas palavras, mas não consigo responder nada, estou perplexa, tudo que acreditei até agora é que ele estivesse morto e de repente parece tão óbvio que ele estivesse ali, como poderia esta segurando a estrutura se estivesse morto, quando uma pessoa morre ela não fica enrijecida, firme, forte, tensionada, mas o seu silêncio me confundiu, mesmo com minhas crises de pânico, estou aliviada agora, era como se o peso das estruturas que estivessem caindo sobre mim agora se foi.

     - Eduardo?

     Ouço tosses baixas, como se tentasse respirar com dificuldade, imagino como deve esta sendo difícil com todo aquele peso e todo aquele sangue que escorre, aquelas barras de ferro, sei que está lá por enquanto e isso me enche de esperança, sei que vai responder, mas tem que falar baixo e devagar, quem diria que meu herói seria exatamente ele.

     - Sou eu Ana, não estava conseguindo responder antes - Solta o desabafo com a voz pesada e sem fôlego, quase sem ar nos pulmões - Como você está?

     A pergunta a deixa confusa, impressionada, como poderia alguém quase morrendo está tão preocupado com a outra pessoa - Estou bem sim, tive apenas alguns cortes, minhas pernas estão machucadas e tem algo em cima que não me deixa mexer, mas ta tudo bem. - Mil perguntas assolam sua mente, porém não tem certeza se esse é o momento certo, então receosa pergunta - E vo ...cê ...como está?

     - Bem, apesar de tudo, aliviado por você não ter se machucado gravemente - A voz começa a ganhar mais entonação, suas forças estão vagarosamente se restituindo.

     - Eduardo como você pode ainda está vivo se estou completamente encharcada de sangue que escorre do seu corpo?

     Sorri dolorosamente ao responder - Eu acho que a maior parte desse sangue não é meu.

     Com uma cara de surpresa ela retruca - Como assim?

     - Haviam pessoas nos andares superiores.

     - Realmente - Com essa revelação ela fica ao mesmo tempo mais confortável e com mais nojo, o que remete a pensar nas outras pessoas, estava completamente esquecida de todos os outros que estavam lá dentro, quem haveria sobrevivido. Seu coração começa a aperta com força lembrando que sua irmã e sua prima estavam lá também para ver a inauguração. - Eu não me lembro de te ver lá quando tudo começou a cair.

     - Porque eu não estava, antes de começar a cair eu vi sua irmã do lado de fora e então sentir um sensação muito ruim e comecei a me aproximar, foi bem estranho, quando cheguei perto vi a fumaça de concreto se formando então percebi que você estava dentro e aqui estamos.

     Aliviada ouvindo que a irmã estava ao lado de fora, imagina que deveria ter se salvado. - Você viu a minha prima também?

     Ouvindo a pergunta enrijece o rosto, fecha os olhos em lamentação e lembra que enquanto corria para dentro algumas pessoas conseguiram passar antes dos escombros começarem a cair, a prima dela não fora uma delas. - Não tenho certeza, havia muita poeira quando entrei.

     - Elas devem estar bem então - sorri, aquela notícia a animara e enchera seu coração com a esperança de que talvez tudo pudera dar certo. - Eduardo ... - enquanto tentava fazer outra pergunta é interrompida por um forte barulho, não sabia ao certo quanto tempo estavam ali e provavelmente os bombeiros iriam procurar sobreviventes, então era questão de tempo para serem salvos.

     - Ana, proteja os seus olhos e tenta se encolher em baixo de mim mais uma vez, estamos muito embaixo e as estruturas estão começando a ceder novamente, estou sentindo as vigas dobrarem, vou tentar fazer algo para que não caia em cima de você.

     Ela se encolhe rapidamente e começa a rezar, suas pernas ainda estão presas e sente como se o prédio estivesse vibrando. A dor e o medo começam a tomar conta de seu corpo novamente, logo quando estava ficando feliz a realidade bate na porta mostrando a situação horrível em que se encontram. Enquanto isso Eduardo analisa com atenção o que está acontecendo com calma e frieza, não é fácil manter o controle nesse momento, mas sabe que não é apenas a vida dele que está guardando.

O verdadeiro guerreiro não se abate com a dificuldade, usa-a a seu favor.