02/10/2013

Passado Vívido

     Silenciosamente me levanto, retirando devagar o edredom que nos cobria, deixando-a solitária em seu aconchego, apenas agora percebo que estávamos deitados em uma Hästens articulada nos cobrindo com um material de mesma marca, olho atentamente o quarto e me impressiono com o luxo e com a total incapacidade de percebe-los a noite que se passou. Detalhes no melhor estilo amadeirado, particularmente sou apaixonado, com quadros enormes e devidamente iluminados tomando um impressão que são verdadeiras janelas para um novo mundo, mudando qualquer perspectiva de cidade moderna misturando tons atuais com antigos com classe e elegância, ainda mais com a cama suspensa com interlaçados, formando uma moldura que inicia no piso e segue fazendo o acabamento do pé direito, fica ainda mais sofisticada com o veludo rodeando o colchão.

     Aprecio tudo como uma verdadeira obra de arte, tudo muito longe de qualquer realidade que já tenha vivido, sorrio alegre com essa esplendorosa experiência e então volta a analisar a mulher deitada na cama, sua pele branca esta meio coberta pelos lençóis deixando exposto o seu alto refinamento, percebo uma surrealidade naquele momento, mesmo enquanto dorme ela continua com uma delicadeza divina, lembro da noite que se passara, até nos momentos mais complexos em que nos posicionamos mantinha-se com seu ar de superioridade, sublimação talvez, imprimindo permanentemente em meu conceito o estereótipo de que aparentava mais com uma boneca delicada de porcelana do que uma mulher.

     Retiro-me da fantasia em que me prendi e com cuidado saiu do quarto, tenho a impressão que se uma pluma golpeasse o chão não passaria despercebido. Começo a descer as escadas em direção a porta da frente quando ouço uma voz me chamar, não era a mesma da noite anterior, ou pelo menos não me recordara de já ter ouvido.

     - Bom dia - ecoa da cozinha  um som agradabilíssimo de uma voz marota suave seguido por um forte aroma de chocolate quente recheado com baunilha e canela - Me acompanhe nesse desjejum.

     Surpreso eu desço para cumprimentar a dona daquela belíssima voz, mas com a intenção clara de apenas agradecer o gesto e me despedir, muito tentado pelo cheiro entro na cozinha e me deparo com uma bela dama sentada a mesa, cabelos longos, olhos forte, pele clara, tamanha semelhança que julguei imediatamente irmã da parceira com quem dividi a cama pela noite a madrugada inteira, com traços ainda mais suaves e mesmo aparentando ser mais jovem, uma maturidade que me constrange ao olha-la nos olhos, sinto rapidamente um sensação que estou sendo julgado nos mais minuciosos aspectos. 

     Tenho o costume de julgar todos ao meu redor, procurando os menores detalhes em seus maiores aspectos, porém raramente encontro alguém que faça o mesmo comigo e essa que esta minha frente demonstra astúcia nesse aspecto, pode ser apenas sua maneira de olhar, seu jeito sério e encantador que me envolvei no exato momento que a vi, poderia até chamar de amor a primeira vista, mas como não acredito no amor ainda, ou melhor, não acredito que pessoas como eu possam sentir o amor, conformo-me com a frase paixão a primeira sensação.

     -Sente-se - pelo tom da sua voz não tenho certeza se fora um pedido ou uma ordem, cada segundo me impressiono mais com seu jeito - Não precisa ter vergonha.

     Em nenhum momento expressei visível sinal de vergonha, pelo contrário, mas essa afirmativa me revela o que estava procurando naquela jovem - Meu nome é Eduardo - Caminho até a mesa ficando a frente de minha analisadora, sento-me e percebo que já havia um copo de chocolate quente a minha espera.

     - E o meu Bianca.