22/10/2013

Conto - A Queda do Herói

As vezes ganhamos, as vezes perdemos, as vezes morremos, as vezes não.

     Engraçado que nesse momento tento não pensar nas dores que estou a sentir, evitando lembrar a quantidade de sangue perdido sobre o chão frio, largado nesse ermo, o barulho é tão específico que um simples ruídos me traz conforto. Meu corpo começa a esfriar, sinto as mãos úmidas, um certa agitação, tontura, como se não estivesse mais conectado com meu corpo, não sinto mais tanta dor, apenas uma irritação chata, ainda assim admiro a minha força, mesmo que minha mente tenha desistido, meu corpo ainda quer viver, lutando bravamente naqueles destroços, irracionalmente, heroicamente.

     Quando a deixei parti, deixei a ultima esperança, ainda não sei o resultado e acredito que nunca saberei, relembro o beijo que tanto desejava, esse simples gesto que esperava a tanto tempo e o neguei no ultimo momento, como um homem de virtudes que sempre fui, não poderia simplesmente deixar aquilo me atingir, não poderia deixar acreditar que teríamos chance de sair, que nos salvaríamos juntos e seriamos algo mais do que já eramos.

     Ainda existe uma chama dentro de mim, uma chama que clama por milagre, mas nesse lugar acho que ninguém me ouviria, seja divino ou terreno, estou só, completamente só, abandonado por minha escolhas, tudo que fiz me trouxe a esse lugar. Começo a pensar nos meus erros, no que deveria ter feito para mim e para os outros, meus valores pareciam estar mudando, minhas certezas dos erros que cometi, mas não consigo me culpar porque tenho a certeza que se tivesse outra chance faria exatamente as mesmas escolhas, porque assim sou, dono de minhas vontades e rei de meu mundo.

     Deito-me de lado, no sangue do meu próprio corpo, sinto cada ferro e pedra enfiado em minha pele, minhas costas dilaceradas com feridas abertas, a agonia me cobre a cada nova descoberta horrível que faço com a ponta dos meus dedos sobre as costas, mesmo sem sentir a dor, tento prever a gravidade, acredito que a dor já está em um nível tão alto que meu cérebro já não consegue mais processa-la, não sei ao menos se ainda estou vivo e essa dúvida deixa escapar dos meus olhos as últimas lágrima que restavam, em lembranças eu definho.

     Tudo que fiz foi baseado nas certeza que tive, não poderia virar as costas a minha convicção, as certezas poderiam não ter base sólida ou se mostrarem erradas no futuro e quando isso acontecia humildemente pedia desculpas, as vezes era tarde demais, as vezes não, porem nunca saberia a resposta do final, nunca saberia quando o final chegaria, então não me culpo por minha ações, posso ser tudo nesse mundo, menos fraco de caráter, mentiroso, sem personalidade, sem vida. Até o ultimo momento acredito viver intensamente por minhas convicções, até o final.

    O sangue começa a formar lama como toda a areia e farelo dos destroços, a visão começa a embaçar, uma forte luz o cega os olhos pouco antes da completa escuridão, os sons já não fazem mais sentido, até deixarem de serem escultados, cada agonia que sentia em sua pele começara a se perder deixando-o livre do triste incomodo e o cheiro que quase não existia mais se extingue completamente. Completamente vazio por fora, nenhum sentido lhe cabia naquele momento, apenas a voz dos seus pensamentos que lhe trazia a paz verdadeira, o único momento em sua vida que estava completamente livre da dor, livre das preocupações e consequências, livre.