Lembro-me
sempre de coisas que nunca aconteceram, não sei exatamente o porquê, mas
acredito que elas, talvez, possam ter acontecido, mesmo assim acho que a
explicação desse fenômeno recorrente em minha vida seria uma total chatice perto da
incrível imaginação que tenho para descrever. Por algum motivo acredito que
tudo aconteceu e eu sou uma espécie de relator desses momentos, o que falta a
mim em sonhos minha imaginação completa com várias realidades alternativas que
me transportam para um novo lugar em uma nova região.
Percebo que estou trancado em uma jaula, suspenso a uma
altura suficiente para fazer minha prisão improvisada balançar e me causar
muitas náuseas, uma jaula completamente de aço onde apenas a base era preenchida
por algum tipo de enchimento macio, havia comida e agua em uma tigela e as
barras da prisão eram demasiadamente largas e grossas, porém muito próximas uma
da outra. O local fora dos meus aposentos era completamente de madeira, havia
alguns candelabros, muitos objetos dourados que reluziam com a injeção de luz,
havia também uma mesa grande com folha, tintas, bussolas e uma cadeira que
estavam postos a minha frente, um cheiro forte de mar me subia os sentidos, a
única coisa que faria sentido seria está preso em um navio e pelo aspecto
notado deveria ser um navio muito antigo.
Ouço a porta abrir, prefiro fingir que ainda estou
dormindo para não chamar atenção até que consiga assimilar algo, sei que é um
sonho, deve ser um sonho, tem que ser um sonho. A porta abre e por ela adentra
no recinto um sujeito muito sujo com cabelos longos e uma roupa estranhamente
charmosa e colorida com tons de preto e amarelo que me alegrão os sentido, ele
está caminhando em minha direção bocejando algo, sua cara de sonolência mostra
cansaço e embriagues, muito estranho alguém com esses aspectos. Chega até a
minha cela e com um sorriso carinhoso e a abre.
Noto que ele parece um gigante de perto, inacreditável ver
alguém tão grande, a cela é aberta e suas mãos rapidamente seguem para minha
direção, minha expressão se resumia em apenas uma, medo, não queria aquele
destino, porém não havia alternativas. Seu tamanho e sua força provavelmente
eram muito superiores a minha, não sabia o que estava acontecendo ou porque
continuava ali. As mãos gigantes se dirigem até a minha cabeça e começam a
acalentar com muito cuidado, causando uma sensação única de conforto e medo por
não entender absolutamente nada do que estava acontecendo.
O gigante então envolve suas mãos em minha cintura,
puxa-me para fora da jaula e com muita força joga meu corpo em direção ao outro
lado do recinto, sem nenhuma lógica aparente eu sou arremessado realmente, vejo
tudo correr em minha frente em alta velocidade e meu medo toma conta de mim,
sei que aquele é o fim, seria impossível sobreviver ao impacto. Tenho minha
primeira pequena surpresa então, naquele momento aterrorizante, percebo uma
força contrária a minha queda quando abro meus braços, como se pudesse
determinar a velocidade com que caia, então começo a balançar os braços e minha
velocidade é drasticamente reduzida, percebo que posso planar também e
controlar minha direção no ar, mas isso seria impossível, deveria algum tipo de
magia sobre mim, talvez o famoso pó de fadas que toda criança deseja para ir
para a terra do nunca, mesmo sendo um conto infantil é algo que nos faz pensar
um pouco, eu gostaria de ser uma criança para sempre.
Voltando ao foco principal começo lentamente a controlar
essa nova habilidade e parto a procura do meu agressor, viro rapidamente e o
vejo me ignora saindo do recinto e deixando a porta aberta, minha chance de
escapar estava a minha frente, mesmo que fosse tudo muito obvio parto em
direção a única porta que vejo, a passagem que meu agressor e carcereiro usou,
assim pego impulso em direção a liberdade, ainda voando, é maravilho voar, não
poderia imaginar algo mais satisfatório para minha vida. Seja um sonho ou não
esse momento é épico para minhas lembranças.
Com o bater sincronizado de meus braços parto para fora e
mais uma vez sou surpreendido, um mundo inesperadamente esperado surge a minha
frente, estou realmente onde acreditava estar, porém nunca imaginaria que seria
dessa forma que pararia ali, nem tão pouco que teria uma habilidade tão
fabulosa quanto a cena que aos poucos começo a assimilar.