26/12/2013

Conto - Sons da Natureza | Prólogo

  

Lembro-me sempre de coisas que nunca aconteceram, não sei exatamente o porquê, mas acredito que elas, talvez, possam ter acontecido, mesmo assim acho que a explicação desse fenômeno recorrente em minha vida seria uma total chatice perto da incrível imaginação que tenho para descrever. Por algum motivo acredito que tudo aconteceu e eu sou uma espécie de relator desses momentos, o que falta a mim em sonhos minha imaginação completa com várias realidades alternativas que me transportam para um novo lugar em uma nova região.

Percebo que estou trancado em uma jaula, suspenso a uma altura suficiente para fazer minha prisão improvisada balançar e me causar muitas náuseas, uma jaula completamente de aço onde apenas a base era preenchida por algum tipo de enchimento macio, havia comida e agua em uma tigela e as barras da prisão eram demasiadamente largas e grossas, porém muito próximas uma da outra. O local fora dos meus aposentos era completamente de madeira, havia alguns candelabros, muitos objetos dourados que reluziam com a injeção de luz, havia também uma mesa grande com folha, tintas, bussolas e uma cadeira que estavam postos a minha frente, um cheiro forte de mar me subia os sentidos, a única coisa que faria sentido seria está preso em um navio e pelo aspecto notado deveria ser um navio muito antigo.

Ouço a porta abrir, prefiro fingir que ainda estou dormindo para não chamar atenção até que consiga assimilar algo, sei que é um sonho, deve ser um sonho, tem que ser um sonho. A porta abre e por ela adentra no recinto um sujeito muito sujo com cabelos longos e uma roupa estranhamente charmosa e colorida com tons de preto e amarelo que me alegrão os sentido, ele está caminhando em minha direção bocejando algo, sua cara de sonolência mostra cansaço e embriagues, muito estranho alguém com esses aspectos. Chega até a minha cela e com um sorriso carinhoso e a abre.

Noto que ele parece um gigante de perto, inacreditável ver alguém tão grande, a cela é aberta e suas mãos rapidamente seguem para minha direção, minha expressão se resumia em apenas uma, medo, não queria aquele destino, porém não havia alternativas. Seu tamanho e sua força provavelmente eram muito superiores a minha, não sabia o que estava acontecendo ou porque continuava ali. As mãos gigantes se dirigem até a minha cabeça e começam a acalentar com muito cuidado, causando uma sensação única de conforto e medo por não entender absolutamente nada do que estava acontecendo.

O gigante então envolve suas mãos em minha cintura, puxa-me para fora da jaula e com muita força joga meu corpo em direção ao outro lado do recinto, sem nenhuma lógica aparente eu sou arremessado realmente, vejo tudo correr em minha frente em alta velocidade e meu medo toma conta de mim, sei que aquele é o fim, seria impossível sobreviver ao impacto. Tenho minha primeira pequena surpresa então, naquele momento aterrorizante, percebo uma força contrária a minha queda quando abro meus braços, como se pudesse determinar a velocidade com que caia, então começo a balançar os braços e minha velocidade é drasticamente reduzida, percebo que posso planar também e controlar minha direção no ar, mas isso seria impossível, deveria algum tipo de magia sobre mim, talvez o famoso pó de fadas que toda criança deseja para ir para a terra do nunca, mesmo sendo um conto infantil é algo que nos faz pensar um pouco, eu gostaria de ser uma criança para sempre.

Voltando ao foco principal começo lentamente a controlar essa nova habilidade e parto a procura do meu agressor, viro rapidamente e o vejo me ignora saindo do recinto e deixando a porta aberta, minha chance de escapar estava a minha frente, mesmo que fosse tudo muito obvio parto em direção a única porta que vejo, a passagem que meu agressor e carcereiro usou, assim pego impulso em direção a liberdade, ainda voando, é maravilho voar, não poderia imaginar algo mais satisfatório para minha vida. Seja um sonho ou não esse momento é épico para minhas lembranças.

Com o bater sincronizado de meus braços parto para fora e mais uma vez sou surpreendido, um mundo inesperadamente esperado surge a minha frente, estou realmente onde acreditava estar, porém nunca imaginaria que seria dessa forma que pararia ali, nem tão pouco que teria uma habilidade tão fabulosa quanto a cena que aos poucos começo a assimilar.